O Festival Eurovisão da Canção é organizado todos os anos desde 1956, pela EBU (European Broadcasting Union), e, mais uma vez, aproximamo-nos da decisão final, depois de todos os países terem escolhido os seus representantes nos últimos meses. Mesmo quem não o acompanha regularmente certamente já ouviu falar da sua existência. E, muito provavelmente, já dançou ou se emocionou ao som de uma das músicas do Festival, sem saber a sua origem. Como é que este se tem conseguido manter relevante há 66 anos, com milhões de seguidores? Recuemos então no tempo, para perceber como surgiu o Festival e descobrir os seus acontecimentos mais marcantes.

A sua origem

A EBU foi fundada em 1952 (sucedendo ao IBU – International Broadcasting Union, criado em 1950) para que existisse uma cooperação entre os canais de radiodifusão de cada país europeu, de modo a criar uma infraestrutura que permitisse organizar eventos em conjunto e possibilitar a transmissão simultânea de acontecimentos importantes. O primeiro destes acontecimentos a ser transmitido foi a coroação da Rainha Elizabeth II em 1953. Daqui para a frente, era intenção da EBU fazer a transmissão de notícias e atividades desportivas e culturais na televisão, tendo sido criado para esse efeito o canal Eurovisão em 1954.

Foi então em 1956 que os membros da EBU criaram o seu primeiro evento: o Festival Eurovisão da Canção, vencido pelo país organizador: a Suíça. Itália, Países Baixos, Bélgica, Alemanha, Itália e Luxemburgo foram os restantes participantes. Outros eventos foram criados mais tarde, como o Festival Eurovisão da Dança, mas o da Canção foi o que se tornou mais popular.

Lys Assia, vencedora em 1956

Reflexo Social e Político

Apesar da organização se tentar demarcar da política e ser apenas um concurso de música, existem sempre todos os anos referências políticas, por exemplo, nas votações, quer seja por países votarem no vizinho por conveniência, ou o inverso, países que não dão pontos a outros com quem estejam em conflito ou cujas relações diplomáticas não estejam nos melhores dias. Para além disso, é normal haver a presença de uma ou mais músicas com teor político, sob forma de protesto.

Mesmo que não tenha sido criada com esse propósito, a música E Depois do Adeus com que Paulo de Carvalho participou no Festival de 1974 (realizado no Reino Unido), acabou por se tornar um símbolo da Revolução de 25 de abril de 1974, quando foi usada na rádio como senha para as tropas se prepararem, antes do aval para avançar dado pela música Grândola, Vila Morena.

Paulo de Carvalho no Festival de 1974

Em 1977 o Festival realizou-se no Reino Unido, que passava por um clima de tensão social tendo em conta as condições precárias de trabalho. Nesse ano, o próprio Reino Unido participou com uma música alusiva a essa situação. Inclusive, o Festival teve de ser adiado alguns dias devido à greve dos trabalhadores da BBC.

O fim da década de 80 ficou marcada pela Queda do Muro de Berlim e pela dissolução da União Soviética, que consequentemente levou ao término da Guerra Fria. Neste enquadramento, Toto Cutugno participou no Festival de 1990 (realizado na Jugoslávia, que dois anos mais tarde seria desintegrada) com a música Insieme 1992. Nela fez um apelo a uma Europa unida, que aceita as diferenças e que não estabelece fronteiras divisoras dos povos: “Insieme, unite, unite, Europe” (Juntos, unir, unir, Europa).

Toto Cutugno no Festival de 1990

Em 2011 Portugal foi representado pelos Homens da Luta com a música Luta é Alegria, alusiva à situação de crise vivida no país, que culminou com a intervenção do FMI (Fundo Monetário Internacional) nesse mesmo ano.

Homens da Luta no Festival de 2011

No Festival de 2017 (realizado em Kiev), Joci Pápai representou a Hungria com a música Origo, que faz alusão à discriminação de que a etnia cigana é alvo nesse país

Joci Pápai no Festival de 2017

Curiosidades

A atual regra de desempate dita que o vencedor, em caso de igualdade pontual, é o país que tiver maior nº de outros países a votarem nele. Mas nem sempre foi assim. Quando o Festival foi criado, não foi incluído no regulamento nenhum critério de desempate. Ora, isto nunca foi um problema, até que, na edição de 1969 (realizada em Madrid), o Festival terminou com 4 países empatados no 1º lugar: Reino Unido, Espanha, Países Baixos e França. Não havendo um critério de desempate, os 4 foram considerados vencedores.

Tabela classificativa em 1969

Os cantores eram tradicionalmente acompanhados por uma orquestra ao vivo, mas a partir de 1989 a orquestra deixou de fazer parte do Festival, sendo substituída pela gravação do instrumental.  No Sanremo Music Festival (Festival Nacional da Itália – semelhante ao Festival RTP da Canção) ainda existe esta tradição.

Orquestra no Festival de 1965
Palco do Sanremo Music Festival

Sandra Kim foi a vencedora mais jovem de sempre, quando aos 13 anos venceu o Festival de 1986 em Bergen (Noruega). A sua idade gerou alguma polémica, mas como não existia ainda nada nos regulamentos sobre a idade dos participantes, a sua vitória foi legitimada. A partir de 1989 ficou estabelecido que para participar tem de se ter 16 anos ou mais. Em 2003 foi então criado o Junior Eurovision Song Contest.

Sandra Kim no Festival de 1986

Das 5 edições realizadas entre 1992 e 1996, a Irlanda ganhou 4. Ainda hoje é o país que mais vitórias tem (7) e o único país que ganhou 3 vezes seguidas. É também irlandês um cantor que é muito acarinhado pelo público e referido como o Mr. Eurovision: Johnny Logan. Ele venceu o Festival por 2 vezes, feito nunca igualado até hoje.

Johny Logan no Festival de 1980

Em 1988, no Festival realizado na Irlanda, Céline Dion venceu por 1 ponto de diferença! 137 pontos para a Suíça contra os 136 pontos obtidos pelo Reino Unido.

Céline Dion no Festival de 1988

Em 2003 a Bélgica participou com a música Sanomi, cuja letra está numa língua que não existe. Esta música peculiar conseguiu alcançar o 2º lugar na final.

Grupo Urban Trad no Festival de 2003

Impacto Cultural

O Festival Eurovisão da Canção serve também como palco para dar visibilidade aos artistas a nível internacional.

Portugal no Festival

Portugal participou no Festival desde o ano de 1964, à exceção dos anos: 1970, 2000, 2002, 2013 e 2016. Em 2016, a ausência foi justificada pela RTP como um momento de reflexão sobre a visão de Portugal na Eurovisão, marcada pela restruturação interna do Festival da Canção. Uma coisa é certa: no ano seguinte, Salvador Sobral venceu o Festival realizado em Kiev. Portugal era o país que tinha o recorde de maior nº de participações sem uma única vitória.

Salvador Sobral no Festival de 2017

Apesar de só ter vencido em 2017, Portugal participou ao longo dos anos com diversas músicas que marcam a nossa cultura e até mesmo a história do Festival: durante as 53 participações, só em 2021 participámos com uma música totalmente em inglês.

Em 2008, Vânia Fernandes levou ao Festival na Sérvia a música Senhora do Mar, tendo ficado em 13º lugar. Apesar da classificação final fora do top 10, Vânia foi galardoada com o prémio Marcel Bezençon (em memória do fundador da Eurovisão), que é atribuído à melhor música na opinião da imprensa.

Vânia Fernandes no Festival de 2008

Para além das participações já referidas, dentro das canções que marcaram a cultura portuguesa destacam-se:

(As fontes das imagens usadas em todo o artigo são acessíveis ao clicar nelas)

Categorias: Eventos